18 de junho, 2002 - Publicado às 17h25 GMT
Situação da pobreza mundial piora, diz ONU
Países africanos são os mais atingidos
A situação nos países mais pobres do mundo está piorando mais do que se imaginava, informou nesta terça-feira um relatório da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento - Unctad.De acordo com o documento, o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia nos 49 países mais pobres do mundo - principalmente na África - mais do que duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões, o que equivale a 65% da população. As estimativas são de que, se nada for feito, este número pode chegar a 420 milhões em 2015, data estabelecida pela ONU para diminuir a pobreza mundial pela metade.Mas a Unctad alerta que a saída para reverter esta situação é que os países mudem suas políticas domésticas e a comunidade internacional adote um objetivo simples: o crescimento econômico.Aumento da renda familiarSegundo o secretário-geral da Unctad, Rubens Ricúpero, "o relatório mostra claramente que há um caminho para reduzir dramaticamente o nível de pobreza extrema nesses países, se dermos prioridade ao crescimento econômico e o aumento da renda familiar". Para Ricúpero, se esta renda pudesse ser duplicada nos países mais pobres, a diferença já seria enorme.Segundo Ricúpero, o relatório de 285 páginas é o estudo mais completo sobre pobreza já realizado nos 49 países mais pobres do mundo.A situação melhorou em muitos dos países asiáticos, que registraram crescimento econômico. Ainda assim, segundo o relatório, dois terços da população viveram com menos de US$ 2,00 por dia na segunda metade da década de 90, com uma média de consumo diário de US$ 1,42.A percentagem da população vivendo abaixo da linha de pobreza caiu de 35,5% entre 1965 e 1969, para 23% no final dos anos 90. Nos países mais pobres da África - que responde por 34 dos 49 países mais pobres do mundo - quase nove entre cada 10 pessoas vivem com menos de US$ 2 por dia, em comparação com o consumo per capita de US$ 41 por dia nos Estados Unidos.O Congo é o país que registra os piores índices, com 90,5% da população vivendo com menos de um dólar por dia. Na Ásia, o país em pior situação é Mianmar, a antiga Birmânia, onde esta taxa equivale a 52,3%. Segundo Ricúpero, a pobreza é tão extrema em alguns desses países que há pouca margem para investimentos que estimulem o crescimento o que poderia beneficiar os mais pobres.GlobalizaçãoO relatório também aponta que a queda no preço de matérias primas - principais produtos de exportação desses países - e as novas políticas de comércio, em que grandes compradores se tornaram mais exigentes quanto ao volume e a qualidade do produto, afastaram esses países do mercado internacional, piorando ainda mais a situação. A "globalização", que diminui as barreiras internacionais para o comércio e o investimento "está agravando a armadilha da pobreza internacional", segundo o documento. De acordo com o economista da Universidade de Harvard Jeffrey Sachs - consultor da ONU sobre desenvolvimento - o relatório ressalta a necessidade de uma parceria entre comércio e ajuda internacional."Muitos dos países empobrecidos estão presos nesta armadilha da pobreza e não vão conseguir sair dela apenas com seus próprios recursos", disse Sachs.
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